Cristina Castro conta sua jornada na ciência e como criou o projeto que visa aumentar o número de meninas no ensino superior
Esta semana, é celebrado o Dia Internacional da Mulher e da Menina na Ciência (11/02). A data visa destacar tanto a importância das mulheres na ciência quanto os desafios que elas ainda enfrentam ao trilhar suas jornadas em ambientes antes considerados exclusivos para homens.
O dia também é uma oportunidade para celebrarmos trajetórias de sucesso, como a de Cristina Castro. CEO do Instituto Glória e Head de ESG e Inovação da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Cristina é pesquisadora e participa ativamente de eventos globais de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI).
Para ela, ciência e tecnologia são pilares fundamentais de sua atuação, tanto no meio executivo quanto no Instituto Glória, organização que fundou para combater a violência contra mulheres e meninas por meio da igualdade de gênero.
A jornada: ciência como Norte
Cristina traçou uma trajetória sólida como pesquisadora e professora visitante em diversas universidades internacionais, além de marcar presença em eventos globais na área de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI). Para ela, a ciência e a tecnologia são muito mais do que ferramentas de trabalho — são marcos que orientam sua atuação, tanto no meio executivo, em áreas como ESG e inovação, quanto em seus propósitos mais amplos, materializados no Instituto Glória.
Seu compromisso com a pesquisa vai além da produção científica tradicional. Cristina acredita na educação como a principal força transformadora da sociedade e na formação de uma nova geração de pesquisadoras. Para ela, o conhecimento é um patrimônio intransferível, algo que ninguém pode tirar, independentemente de cargas ou circunstâncias. “O conhecimento é o único caminho que pode nos levar a qualquer lugar do mundo”, afirma.
Mais do que uma pesquisadora, Cristina se define como alguém que transita entre a ciência e o mundo executivo sem perder seu eixo central: promover o desenvolvimento humano e social. Acima de tudo, ela valoriza a beleza de assumir o que não se sabe — porque é justamente na incerteza que a ciência encontra suas maiores oportunidades de avanço.
Instituto Glória: um sonho transformado em propósito
O Instituto Glória nasceu de um sonho ousado: acabar com a violência contra mulheres e meninas. Para muitos, essa visão pode parecer inalcançável, mas Cristina acredita que toda grande mudança começa com uma ideia que desafia o status quo.
A semente desse propósito foi plantada em 2014, quando ela participou de um programa de empoderamento feminino nas Américas. A experiência a marcou profundamente e, ao retornar ao Brasil, a necessidade de agir tornou-se cada vez mais evidente. Em 2019, o que antes era um desejo toma forma.
A complexidade da missão fez com que, em determinado momento, até seu próprio marido questionasse se seria humanamente possível levá-la adiante. A resposta de Cristina foi clara: “Então preciso fazer mais do que é humanamente possível.”
Esse seu pensamento deu origem a robô Glória, uma plataforma de transformação social que atua de maneira colaborativa entre empreendedoras e lideranças para resgatar mulheres da vulnerabilidade social.
Atualmente, o Instituto Glória atua em cinco pilares essenciais: Empreendedorismo; Inserção de mulheres e meninas no mercado de trabalho; Educação ao longo da vida; Saúde feminina e Segurança social. Cada um desses pilares reflete o compromisso do Instituto não apenas em combater a violência, mas também em oferecer ferramentas para que mulheres possam reconstruir suas vidas e conquistar autonomia.
Mais meninas na ciência com o Power4Girls
Dentro do Instituto Glória, nasceu um projeto que se tornaria um divisor de águas para meninas em situação de vulnerabilidade social: o Power4Girls. A iniciativa surgiu da necessidade de levar o empreendedorismo e a inovação para escolas públicas, criando oportunidades reais para meninas que, de outra forma, não tiveram acesso a essas ferramentas.
O projeto começou a tomar forma em 2020, fruto de um trabalho colaborativo entre Cristina e a Embaixada Americana. O objetivo era claro: formar meninas empreendedoras em escolas técnicas e tecnológicas, oferecendo um ambiente onde elas possam ser desenvolvidas soluções inovadoras para desafios reais.
O primeiro ano do Power4Girls foi presencial, reunindo participantes em Brasília para uma experiência imersiva. Quando a pandemia estourou, a solução foi rápida e eficiente: transformar o projeto em um modelo híbrido, garantindo que nenhuma menina fique para trás. Desde então, o programa se fortaleceu, alcançando diferentes regiões do Brasil e impactando a vida de centenas de jovens.
Os resultados são impressionantes. Meninas que cruzaram rios de barco por horas para assistir às aulas agora trabalham em grandes empresas, exportam seus produtos para o exterior e conquistam prêmios nacionais e internacionais. Alguns participantes chegaram até a ONU como jovens embaixadores, outros ingressaram em universidades renomadas, cursando medicina, ciência da computação e tecnologia.
Muitas delas vêm de famílias de baixa renda, com 70% a 80% se identificando como negras, mas todos compartilham um novo senso de possibilidade: acreditam que podem mudar o mundo — e, de fato, estão fazendo isso.
Porém, o impacto do Power4Girls vai além das participantes. “As ex-alunas tornam-se mentoras para as próximas gerações, formando uma rede de apoio que cresce a cada edição. Elas não apenas conquistaram seus próprios sonhos, mas inspiraram outras meninas a acreditarem que também podem chegar lá”, destaca Cristina.
O papel das organizações na inclusão de meninas e mulheres na Ciência
A promoção da diversidade e inclusão na ciência não pode ser responsabilidade apenas das universidades ou dos governos. As organizações privadas e públicas desempenham um papel fundamental nesse cenário, atuando como pontes entre a formação acadêmica e o mercado de trabalho.
Para Cristina, iniciativas como a Biominas Brasil, que impulsionam a inovação e o empreendedorismo no setor de ciências da vida, são essenciais para abrir caminhos para meninas e mulheres na ciência.
Segundo a CEO do Instituto Glória, atualmente, o mercado enfrenta um paradoxo: existem inúmeras vagas abertas em áreas técnicas e científicas, mas muitas empresas não oferecem preenchê-las porque os perfis necessários não estão sendo formados nas universidades. “Isso evidencia a necessidade de um maior alinhamento entre instituições de ensino, empresas e programas de capacitação”, destaca Cristina.
“Organizações como a Biominas desempenham um papel essencial para fortalecer ecossistemas de inovação, apoiar startups de base científica e estimular o desenvolvimento de talentos femininos no setor”, informa Cristina Castro.
Para mudar esse cenário, é preciso investimento e comprometimento das empresas privadas. “É necessário que elas não apenas apoiem programas de formação e inclusão, mas também repensem suas próprias estruturas para garantir que mais mulheres tenham acesso a oportunidades em ciência e tecnologia”, ressalta.
A ciência do futuro precisa ser diversa, e essa transformação passa diretamente pelo envolvimento de organizações dispostas a construir um caminho mais inclusivo. “Projetos como o Power4Girls mostram que, quando têm oportunidade, elas chegam onde quiserem. E isso é só o começo!”, conclui Cristina.