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Avanços nas técnicas de fertilização in vitro dobram chances de sucesso

Desde o primeiro bebê de proveta, nos anos 80, custo do tratamento caiu pela metade.

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Samuel com os pais Neyla e Luiz Fernando (ao fundo): dos sete embriões gerados no tratamento, análise genética mostrou que só um não tinha defeitos e foi implantado, resultando no bebê que completa um ano na terça-feira – Daniel Marenco

RIO — No fim de 2013, a advogada Neyla Fernandes estava quase perdendo as esperanças de ter um filho biológico. Diagnosticada pela primeira vez com problemas de saúde que dificultam a concepção natural em 1998, desde então ela já tinha recorrido seis vezes a tratamentos de reprodução assistida e se preparava para dar início ao que seria sua sétima e última tentativa numa nova clínica. Aos 43 anos, Neyla sabia que as chances de sucesso eram baixas. Mas, graças aos avanços nas práticas e técnicas de fertilização in vitro (FIV), em especial nos últimos anos, hoje ela e seu marido, o empresário Luiz Fernando da Costa Flores, se preparam para comemorar o primeiro aniversário de Samuel.

Desde o primeiro dos chamados bebês de proveta no Brasil — Anna Paula Caldeira, em 1984 — os métodos de reprodução assistida viram sua efetividade, isto é, gestações bem-sucedidas levadas a termo com o nascimento de crianças saudáveis, mais que dobrar, dependendo da idade da mulher, enquanto os custos dos procedimentos básicos caíram pela metade em dólares. Mas, para mães tardias como Neyla, os principais ganhos chegaram mais recentemente, como análises genéticas detalhadas dos embriões que asseguram uma maior viabilidade dos que são implantados. No caso da advogada, dos sete embriões gerados no último ciclo de tratamento, as análises mostraram que apenas um estava livre de defeitos, justamente o que resultou no Samuel.

— Desta vez, o grande diferencial foi mesmo o estudo detalhado dos embriões para escolher exatamente o melhor e mais saudável, já que alguns deles tinham algum tipo de síndrome. Nesses casos as gestações acabam em abortos espontâneos ou as crianças nascem com tantos problemas que logo morrem — conta Neyla. — Eu já estava perdendo as esperanças e não ia tentar mais, então resolvi fazer o estudo, pois com 43 anos não dá mais para contar só com a sorte.

Segundo a advogada, o gasto extra com a análise genética, cerca de R$ 4 mil, “valeu à pena”:

— Quando vi o coração dele batendo no ultrassom, já me senti mãe. Você esquece todo dinheiro gasto, cada tristeza dos tratamentos que não deram certo. Foi um milagre. É muita felicidade e um amor incondicional.

Segundo os especialistas, porém, Neyla ainda é um caso raro na área. Dados da Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (Rede Lara), da Autoridade para Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido (HFEA, na sigla em inglês) e da Sociedade para Tecnologias de Reprodução Assistida dos EUA (Sart, também na sigla em inglês) mostram um grande e abrupto declínio nas chances de sucesso dos procedimentos a partir de aproximadamente os 38 anos de idade. Ainda assim, os avanços foram expressivos nas últimas décadas. Por volta do início dos anos 1990, mesmo em mulheres mais jovens, com menos de 35 anos, só cerca de 20% dos ciclos de tratamento resultavam no nascimento de uma criança. Hoje, esta taxa alcança 45% ou mais, dependendo da clínica. Já entre as mães tardias como Neyla, as chances de sucesso, que ficavam abaixo de 1%, hoje chegam perto de 5%.

— No caso da Anna Paula Caldeira, tivemos que realizar uns 50 a 60 ciclos até o tratamento ser bem-sucedido — lembra Isaac Yadid, que participou da equipe responsável pelo nascimento do primeiro bebê de proveta brasileiro, cuja mãe, Ilza Caldeira, na época tinha 36 anos, e atualmente é diretor médico da Primordia Medicina Reprodutiva. — Fazíamos coisas que hoje, quando paramos para pensar, achamos uma loucura.

Entre as “loucuras” apontadas por Yadid estava a transferência de muitos embriões para o útero das futuras mães. Sem conhecimento sobre a viabilidade de cada um deles, os médicos tentavam desta forma aumentar as chances de que pelo menos um “vingasse”. Disso, porém, resultavam vários casos de gestações múltiplas, isto é, de gêmeos, trigêmeos e até quadrigêmeos, o que, por sua vez, elevavam os riscos da gravidez para as mães e os bebês e a probabilidade de abortos espontâneos que levassem ao fracasso dos tratamentos. Hoje, a tendência é implantar o mínimo de embriões possível, o que novamente vai depender da idade da mulher. Para as mais novas, apenas um, enquanto para as mães mais tardias este número pode chegar a três.

— Todas evoluções que vimos nos últimos anos permitiram que tenhamos embriões de melhor qualidade para a implantação e saibamos quais são eles — conta Paulo Gallo, diretor médico da clínica Vida – Centro de Fertilidade e responsável pelo tratamento bem-sucedido de Neyla. — Com isso, aumentamos as taxas de gravidez com menos casos de gemelaridade ao mesmo tempo que melhoramos muito as chances das mulheres mais velhas que fazem o tratamento. Nelas, o diagnóstico genético pré-implantacional evita a transferência de embriões com problemas e, se o embrião se mostrar normal, a taxa de gravidez independe da idade dela e passa a ser igual à de mulheres mais jovens, por volta de 60%.

MÉDICOS ALERTAM SOBRE ADIAR A MATERNIDADE

Os especialistas, no entanto, temem que histórias de sucesso como as de Neyla reforcem a noção, errônea, de que se pode ficar adiando a maternidade na confiança de que os avanços nas técnicas de reprodução assistida garantirão uma gravidez bem-sucedida no futuro. Segundo eles, por mais que haja melhorias, não é possível “brigar com a natureza”, como definiu Marcio Coslovsky, também diretor médico da clínica Primordia. Ele explica que há uma queda vertiginosa na qualidade dos óvulos e, consequentemente, dos embriões deles gerados a partir dos 30 anos de vida da mulher.

— Sim, evoluímos muito nas últimas décadas, mas também vemos cada vez mais mulheres com 42, 44, 45 anos chegando à clínica em busca de ajuda para terem um filho — conta. — Elas têm tudo contra e querem que façamos algo, mas não dá para ficar brigando com a natureza.

Segundo Coslovsky, para evitar a frustração, e o prejuízo, de vários tratamentos sem resultado, a melhor saída é se planejar, congelando óvulos por volta dos 30 anos para uso posterior, já que, também graças aos avanços recentes, não há praticamente mais nenhuma diferença nas chances de sucesso das técnicas, quer se use um óvulo congelado ou um “fresco”. Opinião parecida tem Pedro Monteleone, coordenador-técnico do Centro de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo e diretor da Clínica Monteleone de Reprodução Humana:

— Após os 35 anos, a situação fica mais difícil. Podemos ajudar mulheres mais velhas, mas adiar a maternidade tem que ser reavaliado.

PREÇO SÓ NÃO CAIU MAIS POR CAUSA DA ALTA DO DÓLAR

Os avanços na área de reprodução assistida não se limitam a avaliações genéticas dos embriões e novos exames para evitar doenças e aumentar as chances de sucesso dos tratamentos. Mudanças nos equipamentos, ambiente e práticas de laboratório também contribuem para aumentar a taxa de bebês nascidos, assim como para reduzir os custos. Apesar disso, eles não são nada baratos, ainda mais com a alta do dólar. Isto, bem como o medo de contrair zika e correr o risco de ter um bebê com microcefalia, têm feito algumas mulheres adiarem os planos de engravidar.

Devido ao dólar nas alturas, nas clínicas particulares, cada ciclo costuma sair por, em média, R$ 15 mil. E o preço não costuma incluir drogas para estimular a ovulação, e os exames genéticos são pagos à parte. Já em ambientes acadêmicos, como no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo, os tratamentos são subsidiados pelo Estado, mas a fila é longa e exclui mulheres que querem ser mães tardias.

— Quando comecei na área, há 20 anos, o custo de cada ciclo ficava entre US$ 5 mil e US$ 7 mil, mas hoje dá para fazer um tratamento por cerca de US$ 3 mil ou menos — diz Pedro Monteleone, coordenador-técnico do Centro de Reprodução Humana do HC-FMSP, que na sua clínica particular cobra R$ 20 mil por ciclo, incluindo a medicação, mais R$ 6 mil pelo diagnóstico genético, se indicado, dependendo do número de embriões avaliados. — Mas hoje podemos encontrar clínicas que oferecem tratamentos de reprodução assistida por R$ 10 mil. Ainda é caro, mas no passado não havia esta possibilidade de procurar preços mais baixos.

Outro especialistas, no entanto, destacam que muitos destes avanços demandam trocas de equipamentos nos laboratórios sujeitas a burocracia e altos impostos, e os medicamentos mais modernos e novos meios de cultura dos embriões também estão bem mais caros aqui devido à alta do dólar.

— No último ano, vimos uma alta de 25% de nossos custos, mas aumentamos os preços em apenas 10%. Estamos sacrificando nossa margem de lucro para não inviabilizar os tratamentos — diz Paulo Gallo, da clínica Vida – Centro de Fertilidade.

Fonte: O Globo

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