Isabela Allende explora o caminho do Brasil rumo à liderança global em biotecnologia, destacando oportunidades e barreiras no setor.
A Biominas Brasil foi um dos convidados para o estudo Brazil Biotech Report realizado pela Endeavor. Abaixo você pode conferir alguns dados presentes do estudo e nossa visão sobre o cenário de biotechs no Brasil.
O Brasil está em um momento crucial para se estruturar como um pólo de biotecnologia. Com mais de 350 startups ativas, o país ocupa a 9ª posição mundial em número de biotechs e é líder na América Latina, concentrando 60% das empresas desse setor na região. No entanto, a realidade é que essas empresas ainda enfrentam desafios significativos para alcançar o nível de inovação, captação de investimentos e maturidade que caracterizam os grandes players globais.
A Importância do Background dos Fundadores
Um dos fatores que molda o perfil das biotechs brasileiras é o background dos fundadores. Segundo o estudo, 54% deles possuem doutorado, e 83,7% têm formação em áreas STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática). Apesar de altamente qualificados academicamente, muitos carecem de experiência em negócios: 62% são fundadores de primeira jornada, e apenas 20% cursaram MBA. Essa predominância de perfis acadêmicos é valiosa para a pesquisa, mas cria barreiras quando se trata de comercializar inovações, escalar negócios e atrair capital de risco.
Biotechs de sucesso em mercados maduros costumam combinar expertise técnica com habilidades de mercado, o que reforça a necessidade de formar times mistos, onde o conhecimento científico é complementado por visão empresarial.
O Brasil no Cenário Global
As biotechs, por natureza, nascem globais. Suas soluções, como medicamentos, biocombustíveis e novos materiais, têm aplicação em qualquer parte do mundo. Porém, apenas 12% das biotechs fundadas por brasileiros têm sede fora do Brasil, o que reflete uma limitação em termos de mindset global e acesso a mercados internacionais.
Além disso, o Brasil ainda é sub-representado em investimentos de capital de risco para o setor. Embora concentre 60% do Venture Capital (VC) de biotechs na América Latina, os investimentos ainda são pequenos em comparação com setores mais estabelecidos, como as fintechs. Biotechs representam apenas 4,8% do capital de risco investido no Brasil, enquanto no Chile e na Argentina essa proporção é de 20% e 7,5%, respectivamente.
Outro ponto crítico é a infraestrutura de pesquisa. Montar um laboratório adequado para P&D exige investimentos iniciais de R$ 5 milhões a R$ 20 milhões, valores fora do alcance da maioria das startups. Embora existam hubs como a própria Biominas em Belo Horizonte, o Supera Parque em Ribeirão Preto, o Cietec em São Paulo e o Biopark no Paraná, há uma escassez de espaços de pesquisa compartilhados que sejam acessíveis e eficientes.
Instituições de Inovação e o Papel da Biominas
Nesse contexto, instituições como a Biominas desempenham um papel fundamental. Atuando com uma trilha de desenvolvimento de negócios, atrelado a um think tank, a Biominas conecta startups, investidores e corporações, promovendo um ecossistema favorável para o desenvolvimento de biotechs. Além disso, oferece suporte estratégico em aspectos regulatórios e financeiros, o que é crucial para startups enfrentarem as barreiras de entrada no mercado.
Outras instituições, como o Instituto SENAI Cimatec e a Embrapa, também têm contribuído para a inovação no setor, mas ainda há espaço para fortalecer a colaboração entre academia, indústria e governo. A criação de hubs mais integrados e a promoção de iniciativas como laboratórios multiusuários podem acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras.
Desafios e Oportunidades
O Brasil possui vantagens competitivas claras, como sua vasta biodiversidade (15% da biodiversidade global) e uma tradição científica robusta — é o 5º país em publicações em ciências biológicas e agro. No entanto, essas vantagens ainda não se traduziram plenamente em inovações disruptivas no mercado global. Entre os desafios estão a burocracia para registro de patentes, a escassez de capital especializado e a falta de uma cultura de risco tanto entre empreendedores quanto investidores.
Para mudar esse cenário, é essencial investir em P&D de forma robusta, aumentar o engajamento de fundos estrangeiros e diversificar o perfil de investidores no Brasil. Biotechs com foco em desafios globais, como saúde, mudanças climáticas e segurança alimentar, têm maior potencial de atrair capital externo, desde que consigam demonstrar viabilidade técnica e escala comercial.
Um Potencial
O Brasil tem todas as condições para liderar a revolução biotecnológica na América Latina e se destacar globalmente. No entanto, isso só será possível com a implementação de um ecossistema integrado, que una pesquisadores, empreendedores, investidores e o governo. Instituições como a Biominas e outros hubs são peças-chave nesse quebra-cabeça, mas é necessário escalar essas iniciativas e atrair mais atores para o setor.
A biotecnologia pode ser um dos maiores motores de transformação econômica e social do Brasil, mas, para isso, é preciso sair do potencial e entrar na ação. A hora de investir, colaborar e inovar é agora.