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Entrevista: Startup Hakkuna

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A história da Hakkuna começou quando um de seus fundadores, que sempre praticou esportes, se viu numa encruzilhada. Ele sentia a necessidade de consumir mais proteínas durante o dia, principalmente no intervalo das refeições principais, mas não tinha muitas opções práticas que fossem, ao mesmo tempo, naturais e saudáveis. Ou era frango com batata doce, ovos ou sardinha (que não são alimentos muito práticos de se levar por aí), ou as barras ou shakes de whey protein (proteína do soro do leite e soja), que apresentam grande quantidade de aditivos químicos e industrializados em sua composição. Não havia uma opção intermediária entre esses dois mundos: alimentos saudáveis e alimentos proteicos.

Depois de alguma pesquisa, ele descobriu uma fonte inusitada e promissora de proteínas: os insetos. Os grilos, por exemplo, têm em média 65% de proteína de alto valor biológico e, diferentemente de proteínas de origem vegetal, possuem todos os 9 aminoácidos essenciais (que não são produzidos pelo nosso organismo). Além de serem ricos em proteínas, muitas espécies de insetos comestíveis também são ricos em ácidos graxos essenciais, especialmente o ômega-3. Eles são naturalmente isentos de glúten e de lactose, possuem muito cálcio e outros sais minerais e também são ótimas fontes de vitamina B-12 que, como sabemos, só pode ser encontrada em boas quantidades em fontes animais. Se desidratados, os insetos podem durar meses sem a necessidade de adição de conservantes.

Além de toda a parte nutritiva excelente, os insetos são extremamente sustentáveis. Para se ter uma ideia, eles expelem 100 vezes menos gases do efeito estufa do que o boi, utilizam 2000 vezes menos água e são extremamente mais eficientes que outros animais em converter alimento em proteína, uma vez que são animais de “sangue frio” e gastam muita pouca energia na manutenção de seu metabolismo. Hoje, cerca de 70% de toda área cultivada no mundo não vai para a alimentação humana e sim para alimentar os animais de corte, sendo que a pecuária apresenta uma das maiores pegadas ambientais do planeta. Até 2050 seremos quase 10 bilhões de pessoas no mundo e nossas formas atuais de conseguir proteína não vão dar conta do recado. O consumo de carne no mundo vai aumentar em 50% e teremos que aumentar nossa produção agrícola em 70% para que não haja muita variação de preços. É neste contexto que novas fontes de proteína mais eficientes ganharão força. Em estudo recente, a ONU através da FAO (seu órgão para agricultura e alimentação), recomendou o uso de insetos na dieta humana como fator de segurança alimentar nos anos vindouros. A estimativa é que, até 2050, cerca de um terço de toda proteína consumida no mundo virá de fontes alternativas e os insetos poderão ser responsáveis por quase metade dessas fontes, ou um sexto de toda proteína consumida.

Ademais, os insetos utilizados para alimentação humana são criados nas mais perfeitas condições de higiene e saúde e apresentam baixíssimo risco de transmissão doenças de origem animal, como a Gripe Aviária, o H1N1 e o Mal da Vaca Louca, pois são distantes do homem, geneticamente falando.

A Hakkuna surgiu então para oferecer novas opções de alimentos proteicos. Pensando em todas as vantagens de se alimentar de insetos, o fundador mencionado no começo desse artigo se juntou a outro, expert na produção de insetos em larga escala e juntos planejam oferecer regularmente os insetos na alimentação das pessoas. Começarão oferecendo snacks e futuramente planejam ampliar seu leque de produtos. Eles são a favor de uma alimentação cada vez mais livre de produtos industrializados e cada vez mais natural, preservando nosso organismo e também o planeta. Assim, querem entregar alimentos saudáveis e nutritivos, garantindo a qualidade e a procedência dos mesmos, pois se preocupam com isso. Eles não querem substituir o seu bife, mas sim te dar mais opções para uma alimentação saudável e proteica.

Os insetos da Hakkuna são criados de maneira ideal para o consumo humano, nas melhores condições de higiene e em ambiente controlado, são desidratados e triturados, virando uma farinha altamente proteica que, posteriormente, com a adição de outros ingredientes saudáveis e de qualidade, viram os produtos vendidos pela Hakkuna. Produtos semelhantes já estão sendo oferecidos em outros lugares como Europa e Estados Unidos e essa é uma tendência que veio para ficar.

Confira na sequência a entrevista feita com a startup.

Como é o nicho de mercado e quais as perspectivas para ele?

Nosso nicho inicial de mercado serão pessoas do universo fitness. Essas pessoas são mais propensas a inserir novos alimentos em sua dieta quando estes alimentos têm bons teores de nutrientes, principalmente proteínas. Como os grilos são naturalmente isentos de glúten e de lactose, também abordaremos o público dos intolerantes a essas substâncias. Nós focaremos inicialmente nesses nichos, mas pretendemos abordar outros mercados futuramente, pois acreditamos que a proteína de insetos é um alimento para todos.

Problema:

Segundo a ONU, até o ano de 2050 seremos quase 10 bilhões de pessoas no mundo. Para alimentar a todos, precisaremos aumentar nossa produção de carnes em 50% e para isso, teremos que aumentar nossa produção agrícola em 70%. Se tudo se mantiver no padrão atual, é possível que haja um colapso na produção mundial de alimentos. Precisamos de novas fontes de proteína e aí entram os insetos. A ONU incentiva e recomenda o uso de insetos na alimentação humana, como fator de segurança alimentar. Além disso, o instituto de pesquisas de mercado Lux, projeta que até 2050 até um sexto de toda proteína consumida no mundo pode vir de insetos.

Ademais, é difícil encontrar snacks saudáveis, naturais e com alto teor de proteína no mercado brasileiro. Os snacks proteicos encontrados hoje possuem muitos conservantes e aditivos químicos e os saudáveis e naturais não possuem muita proteína de alto valor biológico. Pessoas focadas em uma alimentação proteica e natural não têm muitas opções práticas.

Solução:

A Hakkuna propõe então, num primeiro momento, a produção de barras de proteína à base de proteína de insetos – uma barrinha natural, saudável e com alto teor de proteína. Entraremos no mercado com barrinhas de proteína, feitas a partir de farinha de grilos, que identificamos serem a porta de entrada para mercados bem maiores. Pretendemos crescer e escalar, pois acreditamos que a proteína de insetos é um produto para todas as pessoas. Serão feitas granolas, pós de proteína e até mesmo massas como macarrão, cookies, pães, etc., pois a proteína de insetos é muito versátil.

Como está sendo o desenvolvimento de produção da tecnologia?

O desenvolvimento da tecnologia está sendo muito curioso. Por ser um produto físico e por demandar certos recursos específicos, estamos indo atrás de parceiros para nos ajudar com toda essa parte. O Gilberto Schickler (sócio fundador) tem um grande know-how na criação massal de insetos, nossa matéria prima. A produção das barrinhas será terceirizada. Juntar todas as pontas do negócio está sendo muito interessante.

Vocês já receberam investimentos ou estão em busca de investimentos do governo ou de algum fundo?

Ainda não recebemos investimentos, mas estamos em busca dos mesmos. Temos alguns fundos de investimento no radar e também estamos considerando alguns editais públicos voltados à inovação.

Quais são os próximos passos para a startup após o *BioStartup Lab (BSL)?

Após o BSL, houve interesse da Biominas em nos acelerar e fomos convidados para participar de seu programa de aceleração, o GroWbio. Agora estamos trabalhando juntos para definir a estratégia de entrada no mercado e aporte de capital, que julgamos importante para escalar e negócio.

Quando e como vocês perceberam que a ideia poderia se tornar um produto inovador e vocês poderiam transformá-lo em um negócio?

Percebi que a ideia poderia se transformar num negócio quando pesquisei sobre o assunto de insetos para alimentação humana na internet e vi que algumas empresas no exterior já estavam entrando neste ramo de negócio e prosperando com ele. Fiz uma busca de empresas parecidas no Brasil e vi que ainda não havia ninguém explorando a ideia por aqui. Além disso, encomendei minha primeira leva de grilos e comecei a criá-los em casa. A primeira vez que comi os grilos, vi o quanto eles eram gostosos e definitivamente vi que aquilo poderia se transformar num negócio.

Como foi a experiência da Hakkuna no BioStartup Lab?

O BSL nos ajudou muito. Foi um momento chave na história da Hakkuna, pois nos fez colocar a ideia no papel, de uma maneira lógica e que fizesse sentido. O programa nos impulsionou a irmos atrás de validações com possíveis clientes e parceiros e conseguimos avançar bem no negócio. Além disso, a rede de mentores e contatos da Biominas foi crucial para a Hakkuna, uma vez que são contatos voltados à área de ciências da vida. Através do programa descobrimos que  há muito apoio de fundos de investimento e players de agências governamentais de fomento. Portanto, o programa foi muito interessante, de aprendizado intenso. Valeu muito a pena!

 

Conheça mais sobre a Hakkuna: http://biostartuplab.org.br/startups/

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*O Biostartup Lab é uma iniciativa da Biominas Brasil e do Sebrae Minas voltada para pessoas interessadas em criar soluções na área de ciências da vida. Contamos com um time de especialistas e mentores interessados em soluções para desafios nas áreas de saúde humana, digital health, agronegócios, saúde animal, e meio ambiente. O programa de pré-aceleração de startups tem duração de 3 meses e está com as inscrições para a 2ª rodada abertas até o dia 26/06.
Saiba mais no site do programa: www.biostartuplab.org.br

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