Revista Mercado Comum
Angélica Salles, diretora da Habitat: expectativa de crescimento para abrigar novos projetos
Diante da necessidade de diversificar a base econômica de Minas Gerais, uma das alternativas apontadas por especialistas é o fomento à cadeia de empresas do setor de tecnologia. Já há algum tempo, o Estado vem se apresentando como um dos destaques do mercado no País, tanto nas áreas de pesquisa e desenvolvimento (P&D) como na produção efetiva de equipamentos, principalmente no Vale da Eletrônica, em Santa Rita do Sapucaí, no Sul de Minas. No entanto, até agora a evolução do ambiente de negócios em tecnologia ocorreu em grande parte devido ao movimento dos próprios empreendedores, tendo o governo adotado apenas algumas medidas pontuais para auxiliar a atividade. Agora, os entes públicos começam a correr atrás do tempo perdido com o lançamento de programas voltados para a área, mas o ritmo acanhado dos investimentos e a falta de articulação entre os envolvidos trazem incertezas quanto ao desenvolvimento do setor.
Segundo dados do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o Brasil ocupa hoje a 7ª posição no ranking mundial do setor de software e Tecnologia da Informação (TI), com a geração de 1,2 milhão de empregos e correspondendo por 4,4% do Produto Interno Bruno (PIB) nacional. Para tentar impulsionar esse mercado, o governo federal lançou o programa TI Maior, em meados de 2012, com o objetivo de alçar o país à 5ª posição no mercado internacional, aumentar o número de empregos para 2,1 milhões e elevar a participação na geração de riquezas do País a 6%.
As previsões são otimistas, e o avanço pode ser maior do que se imagina. Para o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), Antonio Gil, mesmo observando o crescimento do setor brasileiro de TI nos últimos anos, existe um grande potencial para esse mercado. “Nos países desenvolvidos, a representatividade de TI na economia é de 6 a 7% do PIB. Podemos, portanto, crescer ainda mais. Há muitas oportunidades, principalmente nas áreas do governo relacionadas à saúde, educação e segurança, além da automatização de pequenas e médias empresas”, diz.
Atualmente, Minas Gerais é o terceiro mais importante polo de tecnologia no Brasil, movimentando R$ 2,3 bilhões por ano. O Estado só fica atrás de São Paulo e Rio de Janeiro, com giro de R$ 29,8 bilhões e R$ 9,9 bilhões, respectivamente. Por isso, o potencial para desenvolvimento dessa vocação econômica é considerado concreto por muitos especialistas.
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Vale da Eletrônica e polo de biotecnologia são exemplos
No campo da tecnologia e inovação dois casos mineiros podem nortear as iniciativas para o desenvolvimento de outros segmentos. Conhecido internacionalmente, o Vale da Eletrônica, instalado em Santa Rita do Sapucaí, transformou a dinâmica econômica e social da cidade. Com a criação do Arranjo Produtivo Local (APL) de empresas de eletroeletrônica, desenvolveu-se um aglomerado de indústrias. Hoje, saem da região cerca de 13.700 produtos diferentes para atender demandas nas áreas de telecomunicação, segurança, eletrônica, informática, radiodifusão, automação, saúde, entre outros.
Em seis anos, o crescimento do Vale da Eletrônica mais que dobrou. De 2006 a 2012, o número de empresas saiu de 73 para 150, de empregos de 4.800 para 10.000, e o faturamento do APL saltou de R$ 500 milhões para R$ 2,2 bilhões, uma alta de 340%. Para isso, o setor produtivo teve o intercâmbio e a contribuição de instituições como a Escola Técnica de Eletrônica Francisco Moreira da Costa, o Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), o Centro de Ensino Superior em Gestão, Tecnologia e Educação (FAI) a unidade do Sesi/Senai implantada pelo Sistema Fiemg.
De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto Souza Pinto, a tendência é de que o polo eletroeletrônico se desenvolva ainda mais e que intensifique o movimento de exportações. Entre 2007 e 2012, o número de empresas exportadoras subiu de apenas seis para 40, por meio do Projeto Setorial Integrado (PSI) Eletroeletrônico. Neste mesmo período, as divisas com o comércio exterior cresceram 27%, de US$ 19,13 milhões para US$ 24,54 milhões.
Outro case de sucesso é o de biotecnologia. Segundo levantamento da Biominas Brasil, Minas Gerais possui 83 importantes empresas no setor, respondendo por 30,6% do número nacional, e sendo o único estado com possibilidade mais concreta de ameaçar a liderança de São Paulo no ranking, que tem 103 empresas com participação de 38% no mercado. O Rio de Janeiro, o terceiro colocado, tem apenas 16 empresas, com uma fatia de 5,9%.
Uma das ações para desenvolver esse segmento em Minas começou ainda em 1992, quando um convênio entre Biominas, governo do Estado, Prefeitura de Belo Horizonte e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) criaram a incubadora de empresas Habitat. As operações começaram em 1997 e desde então a instituição vem dando suporte a iniciativas empresariais nascentes no setor.
Em 16 anos, foram 47 empreendimentos contratados, sendo que 22 empresas já foram graduadas. Durante o período de 1997 a 2012, as empresas incubadas registraram R$ 129 milhões de faturamento. Já entre 2002 e 2011, as empresas graduadas faturaram outros R$ 550 milhões.
De acordo com a diretora da Habitat, Angélica Salles, por ter sido construída com o foco de abrigar empresas de biotecnologia, a infraestrutura das instalações da incubadora atendem todas as normas rígidas do governo e órgãos de fiscalização e regulamentação, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “Uma das grandes demandas das empresas desse segmento é a questão do licenciamento. Para testarem os seus produtos ou serviços, elas precisam de diversas licenças e registros. É um processo longo, em torno de dois anos. Isso é um dos grandes desafios das empresas”, ressalta Angélica Salles.
Normalmente, as empresas permanecem incubadas de seis a oito anos. Como o tempo é relativamente grande, as instalações quase sempre estão totalmente ocupadas. Quando surgem espaços, processos seletivos são realizados para identificar bons projetos empresariais. Com recursos da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes) para elaborar um projeto arquitetônico de expansão da incubadora, a Habitat planeja a expansão de suas instalações. Com 3.000 metros quadrados atualmente, a expectativa é de que outros 1.800 sejam incorporados à planta locável.
Na área de biotecnologia, uma das empresas mineiras que vem ganhando destaque no mercado é a Invita, que participou de uma incubadora da universidade. O seu embrião foi no departamento de alimentos da UFMG, com pesquisas para o desenvolvimento de alimentos para dietas especiais.
Hoje, a Invita disputa mercado com grandes multinacionais e está cada vez ganhando mais espaço de mercado. A empresa é focada em pesquisa e desenvolvimento, assim o processo fabricação dos produtos é realizado por empresas terceirizadas, em outros estados. “Estamos disputando um mercado que exige muita qualidade e não conseguimos encontrar uma indústria em Minas capaz de produzir com o padrão de excelência que precisamos”, diz farmacêutico e o diretor da Invita, Wendel Afonso.
Os grandes contratos da empresa são junto às secretarias estaduais de saúde, como as de Minas Gerais, Santa Catarina e Bahia. A empresa também já se prepara para desbravar mercados internacionais, principalmente para América Latina. Contudo, antes a empresa pretende se consolidar com o lançamento de uma carteira de dez produtos até 2014. Atualmente são três produtos comercializados e outros estão em fase de liberação na Anvisa.
Para Wendel Afonso, o potencial de inovação e novos negócios nas áreas de farmácia e química são muito grandes, com inúmeras possibilidades. “Em relação ao Brasil, Minas exerce papel de destaque. Mas, na comparação com os investimentos realizados em outros países, ainda estamos muito aquém”, pontua.
Fonte: Revista Mercado Comum