O Brasil vem investindo no fortalecimento dos núcleos de inovação tecnológica (NITs) nos últimos anos, principalmente por meio da implementação de novas unidades voltadas para a criação de produtos e serviços que fortaleçam a indústria nacional. Porém, este tipo de atividade encontra barreiras e gargalos pelo caminho, dos mais variados tipos. Um, no entanto, se sobressai, segundo especialistas: a formação de recursos humanos capazes de gerir a inovação e a fixação deles nos NITs. O tema foi abordado durante o 2° encontro do Ciclo de Debates em Biotecnologia 2014, promovido pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), na última sexta-feira (31), em Brasília (DF).
A principal dificuldade relatada por representantes dos NITs presente ao debate foi a retenção dos gestores de inovação nas unidades. Na realidade brasileira, a principal fonte de mão de obra para gerenciar pesquisas inovadoras são os bolsistas das universidades às quais os NITs são vinculados. Passado o período de validade da bolsa, o profissional deixa o núcleo acadêmico e migra para a iniciativa privada, onde as empresas podem arcar com a expectativa salarial do gestor.
Um estudo conduzido em parceria pela Biominas e os ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) traçou o perfil dos principais NITs do Brasil. E 60% deles apontaram que a falta de profissionais capacitados nas unidades é o principal problema, até porque o período de capacitação do profissional dentro dos NITs leva cerca de oito meses, praticamente o período integral das bolsas.
“O trabalho dos NITs é árduo e a maioria tem equipes muito pequenas. Os principais problemas se tornam ainda maiores por causa da pouca equipe”, explicou a coordenadora-técnica do estudo, Flavia Ladeira.
O mesmo cenário é encontrado nas empresas públicas que geram inovação, como, por exemplo, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A companhia, porém, adotou um modelo que se mostrou eficaz para reter profissionais qualificados em inovação. Os bolsistas que atuam lá conseguem ser absorvidos ao quadro fixo, mantendo o desenvolvimento de projetos e pesquisas.
“As empresas públicas, quase todas, não têm gestão de inovação profissional, porque o NIT não consegue vincular o profissional. Nós temos uma pequena quantidade de bolsistas atuando, mas fizemos um arranjo para que esses bolsistas possam ter uma carreira dentro da empresa e vinculá-lo à instituição”, comentou a coordenadora de Gestão Tecnológica da Fiocruz, Maria Celeste Emerick.
Não é só aqui
O panorama relatado pelos representantes dos NITs, entretanto, não é exclusividade nacional. Mesmo em países altamente desenvolvidos tecnologicamente, a questão da retenção da mão de obra especializada nos NITs é problemática. O relato é da assessora técnica do Departamento de Tecnologias Inovadoras do MDIC, Priscila dos Santos.
“Essa questão é crítica não só no Brasil, mas no mundo todo. Nos Estados Unidos acontece o mesmo, os NITs de lá reclamam que não conseguem reter os pesquisadores porque a iniciativa privada é muito mais atrativa financeiramente”, argumentou.
Fonte: Agência Gestão CT&I