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Que dor de mercado eu posso resolver? A trajetória de um pesquisador em biodiversidade

05

abr 2023

Por:Ana Laura Rosa
Inovação | Pesquisas

O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo, o que o torna um ambiente propício para o desenvolvimento de inovações a partir da prospecção de moléculas naturais. Para descobrir essas moléculas e suas aplicações, a pesquisa científica é fundamental, pois nos faz refletir sobre a imensidão do tesouro escondido na natureza, onde há muito a ser estudado. Diante disso, surge a pergunta de como podemos transformar o potencial dos recursos naturais em inovações tangíveis ao cotidiano da sociedade brasileira e qual é o papel que o Brasil pode desempenhar nesse setor frente à comunidade global.

Para falar um pouco mais sobre esse tema, convidamos o professor Dr Nícolas de Castro Campos Pinto, do Laboratório de Produtos Naturais e Bioativos da Universidade Federal de Juiz de Fora, que foi o vencedor do Desafio InovafitoBrasil com o projeto “Fitoterápico multifuncional para fase de manutenção da dermatite atópica”.  

 

Trajetória Profissional

Nícolas possui graduação em Farmácia, mestrado em Ciências Farmacêuticas e doutorado em Ciências Biológicas. No início de sua trajetória profissional, após a graduação, ele não tinha muito conhecimento sobre a carreira acadêmica e tentou se alocar no mercado de trabalho. Sem sucesso, foi incentivado a participar da seleção de um mestrado, momento em que passou a integrar a equipe do Laboratório de Produtos Naturais Bioativos da UFJF. Durante o mestrado, se identificou imediatamente com a área de Produtos Naturais, motivado pela possibilidade de colaborar na descoberta ou desenvolvimento de alternativas terapêuticas para o tratamento de doenças, percebeu que tinha encontrado uma oportunidade de contribuir com a sociedade na qualidade de pesquisador. Segundo Nícolas: 

“Trabalhar com Produtos Naturais me fez sentir mais farmacêutico e mais útil do que nunca. A possibilidade de retribuir todo o investimento que a sociedade fez em minha formação com a criação de novas tecnologias que poderiam minimizar, tratar ou prevenir doenças era, e ainda é, motivante para mim.” 

Atualmente, Nícolas se dedica ao estudo dos potenciais de extratos de plantas e compostos isolados no tratamento de transtornos cutâneos, utilizando técnicas cromatográficas para caracterizar esses extratos e identificar marcadores e os constituintes químicos responsáveis pela atividade biológica. O resultado mais promissor foi a descoberta de um derivado vegetal obtido a partir de uma planta alimentícia não convencional (PANC). Com essa descoberta, Nícolas e sua equipe perceberam um relevante potencial para o tratamento diário da dermatite atópica, e patentearam a tecnologia gerada em sua pesquisa de doutorado. Porém, o maior desafio surgiu depois disso: como transformar o produto gerado na universidade em algo passível de chegar efetivamente às mãos dos usuários?

 

Desafios em pesquisas com produtos naturais bioativos 

Segundo o professor, os produtos naturais bioativos possuem um potencial subestimado para a inovação e para a saúde. No Brasil, existem ainda muitas espécies vegetais que são utilizadas para tratamento de doenças por comunidades tradicionais, mas que ainda são pouco estudadas. Para ele, o Brasil tem uma chance de se destacar no desenvolvimento de produtos biotecnológicos inovadores oriundos da biodiversidade, e que, investir nesse setor impacta positivamente a cadeia produtiva de ponta a ponta, desde o produtor até o consumidor final. 

Mesmo assim, para o pesquisador o maior desafio se encontra em transformar a descoberta científica em uma inovação que atinja as pessoas. Entender o mecanismo no qual esse processo se sucede é importante desde o delineamento da pesquisa, “rompendo com o hábito de ir para a bancada fazer invenções, e começarmos a ir para a bancada com o propósito de fazer inovações”. Isso demanda que o pesquisador aprimore-se para além do conhecimento acadêmico, desenvolvendo outras habilidades multidisciplinares, explorando o empreendedorismo científico

“Se ao final de nossas pesquisas não tivermos em mãos uma tecnologia que de fato resolva uma dor de mercado, que tenha uma proposta de valor clara, que seja escalável, passível de ser produzida de maneira sustentável e cumpra demais requisitos importantes que vão além daqueles que são estritamente necessários para preencher lacunas científicas, como esperar que ela se insira no mercado?”

Perspectivas para o futuro 

A investigação de espécies vegetais e outros elementos da natureza continua sendo uma importante estratégia para a descoberta de novas terapias. Além disso, há um crescente interesse por produtos naturais de origem não animal, o que tem impulsionado a indústria farmacêutica a se voltar cada vez mais para essa direção. Como resultado, surge uma demanda crescente no mercado por novos produtos, criando uma janela de oportunidade para startups de biotecnologia emergirem e se desenvolverem, reunindo pesquisadores e empreendedores científicos.

Considerando que as universidades brasileiras são responsáveis pelas principais inovações do país, é, além de atraente, necessário pensar em modelos de parceria com a indústria, visto que são os responsáveis por garantir a escalabilidade e comercialização dos produtos. Desde as fases iniciais do projeto, essas parcerias são valiosas, permitindo um alinhamento melhor da pesquisa, conforme destacado pelo pesquisador. Além disso, a troca de experiências promovida por essas parcerias oferecem oportunidades de crescimento intelectual e profissional. O professor ainda aponta que é importante fazer uma pergunta adicional para além da pergunta científica a ser respondida com a pesquisa: “que dor de mercado eu posso resolver?”. Isso enfatiza a importância de considerar as demandas do mercado ao buscar soluções inovadoras.

Dentro desse contexto, com o intuito de aproximar pesquisadores e indústrias do setor, a InovafitoBrasil foi criada para facilitar a troca de experiências e a formação de parcerias. A plataforma proporciona visibilidade para os projetos dos pesquisadores, permitindo que representantes da indústria possam contatá-los de forma direta. Adicionalmente, a plataforma oferece um roteiro de desenvolvimento de produto com diretrizes para o planejamento do projeto de pesquisa, compreendendo o passo a passo para o desenvolvimento de um fitoterápico. Esse roteiro foi adaptado para a metodologia de TRL (Nível de Maturidade Tecnológica), amplamente utilizada pela indústria, o que permite que o pesquisador possa facilmente explicar em que estágio sua pesquisa se encontra e quais são os próximos passos. Com isso, a InovafitoBrasil possibilita a redução de gastos desnecessários e retrabalho, e promove uma maior eficiência no desenvolvimento de produtos fitoterápicos.

 A trajetória do pesquisador Nícolas Pinto é um exemplo inspirador de como a paixão pelo conhecimento e pela busca por soluções inovadoras pode transformar a vida de uma pessoa e contribuir para a sociedade. Desde sua graduação em Farmácia até sua pesquisa de doutorado, Nícolas enfrentou desafios e descobertas que o levaram a descobrir o potencial dos produtos naturais na busca por novos tratamentos e alternativas terapêuticas para várias doenças. Nícolas também percebeu a importância de ir além da pesquisa científica e buscar formas de transformar sua inovação em algo que chegue efetivamente às mãos de quem mais precisa. Sua pesquisa sobre o tratamento de transtornos cutâneos com extratos vegetais trouxe uma descoberta importante que pode resolver uma dor de mercado e melhorar a qualidade de vida das pessoas, e por isso foi destaque no Desafio InovafitoBrasil. Seu trabalho é um exemplo a ser seguido pelos futuros pesquisadores que buscam fazer a diferença na vida das pessoas e contribuir para o avanço da ciência e da tecnologia.

Se deseja conhecer mais sobre a InovafitoBrasil, acesse o nosso site e a plataforma e cadastre o seu projeto! 

Se quiser, entre em contato conosco pelo email analaura@biominas.org.br . Estamos à disposição! 

 

Pensar Grande, Pensar Fito, Pensar Brasil. 

https://www.inovafitobrasil.com.br/

 

Autores: Ana Laura Rosa e Nícolas Pinto

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